Lázaro de Carvalho

164 – O Novo Testamento

In Artigos on 26 de maio de 2012 at 16:17

A ideia de ESCOLA ou Verdadeiro Conhecimento ocupa um lugar muito importante na cultura Cristã, principalmente no Novo Testamento, se o compreendemos corretamente. Tanto os Atos dos Apóstolos quanto as Epístolas possuem um peso específico diferenciado dos Evangelhos. Podemos afirmar que os Evangelhos foram escritos numa linguagem acessível a poucos, pois é necessário possuir um Centro Magnético capaz de assimilá-los.

Por mais inteligente e educado que um aprendiz possa ser, no sentido natural da palavra, ele não os compreenderá sem indicações especiais ou conhecimento de sua origem e tradição. A interpretação primitiva difere em vários pontos da atual devido à falhas na tradução e também por influência direta da cultura onde está inserido. Podemos salientar também que os quatro Evangelhos são a única fonte a partir da qual sabemos de Cristo e de seus ensinamentos, pois é praticamente impossível reconstruir a partir das Epístolas a personalidade de Cristo, o drama ou a essência de seu ensinamento.

As Epístolas dos Apóstolos, principalmente as do Apóstolo Paulo são a base sobre a qual foi edificada a Igreja. Diria que são uma adaptação dos Evangelhos à prática, sua materialização e apicação à vida cristã, não sem antes sublinhar que essa adaptação se contrapõe em vários pontos à ideia original. Diria até que foi a partir das Epístolas, não sem antes chamar a atenção para a inexatidão da tradução do próprio Evangelho, que o Verdadeiro Conhecimento iniciou o seu legado de imprecisão e falso compromisso com a verdade.

Os Atos dos Apóstolos, tanto quanto as Epístolas, tornou possível à Igreja que tem por base as Epístolas estabelecer uma conexão com os Evangelhos. Por outro lado, alguns cristãos não satisfeitos  com o desenrolar de todo aquele processo procuraram refúgio em algumas Irmandades muito antigas, com o compromisso de preservar a essência do ensinamento. Esses grupos de alguma forma não apenas preservaram a autenticidade do ensinamento, mas em contato com sua fonte original o enriqueceu com a verdade oculta em sua origem. A uma dessas Irmandades eu carinhosamente chamo de ESCOLA e a um de seus mestres dei o nome de ‘O Colecionador’.

Historicamente, o papel principal na formação do Cristianismo não foi um legado particular do próprio Cristo, mas uma iniciativa corajosa do Apóstolo Paulo. O Cristianimo da Igreja contradisse o Verdadeiro Conhecimento desde a sua origem. Posteriormente, houve uma dissidência tão grande de valores que pouco restou de sua tradição. Coube no Século XII ao pequeno Francisco, da cidade de Assis, chamar a atenção da Igreja para um retorno às suas raízes, mas tudo não passou de chuva de verão, pois rapidamente foi legado ao esquecimento. Mesmo antes de sua morte a sua obra já estava destinada ao fracasso.

O que vou lhes dizer agora usando a reflexão de P. D. Ouspenski é que se Cristo nascesse nos dias de hoje não só não poderia ser o chefe da Igreja  Cristã, mas provavelmente não seria sequer capaz de pertencer a ela. Nos períodos  mais brilhantes de força e poder da Igreja teria sido, com certeza, declarado hereje e queimado na fogueira da inquisição. O que não difere tanto assim não é mesmo? Entre morte de cruz ou fogueira fica realmente difícil escolher. Digo sem medo de errar que se o Cordeiro em Essência, Verdade e Vida adentrasse os cultos para fazer valer a sua Verdade, seria queimado pela mídia em questão de semanas. Já com o Lobo é diferente ele sutilmente já fez sua morada lá. É na identificação, imaginação e serviço ao ego que o Lobo cria sua base de sustentação ao Cordeiro.

O Novo Testamento, assim como o contexto do ensinamento Cristão não pode ser considerado como um todo. São apenas fragmentos de um conhecimento muito mais amplo e específico. Precisamos ter em mente que os cultos dos dias atuais se divorciaram de uma forma tão incisiva da Tradição que praticamente nada restou do próprio Cristo. Até porque Deus jamais se prestou à condição de uma culto, muito menos de um culto de adoração. Os Cristãos estão adorando o seu eu imaginário para manter o pequeno e intocável mundo de suas posses. Deus é a maior aquisição do Cristianismo, algo assim como uma bengala ou artefato que possibilite a sua locomoção. Outrossim, não é possível de modo algum falar em países cristãos, nação cristã ou cultura cristã, todos esses conceitos têm apenas conotação histórico-geográfica.

O Novo Testamento é um livro muito estranho. A princípio parece ser simples, mas é extremamente complexo. Está escrito para aqueles que já possuem um certo grau de compreensão, ela é a chave para o seu entendimento. Como diria Pitágoras: Ele é um livro cheio de fórmulas, expressões próprias, referências subentendidas somente aos iniciados, alusões a números e procedimentos não acessíveis ao homem ordinário. A sua literalidade é facilmente acessível aos incultos e inconsequentes, mas o seu espírito não aquiesce a mente do vulgo. O Novo Testamento é a ponte para o sempre, mas a travessia é inacessível àqueles que usam a razão como expressão. Só o amor pode cavalgar aquelas páginas arredias.

É evidente ser ele um condutor de conteúdos emocionais, e se o nível de ser de um homem não for compatível com o conhecimento ali enunciado não o compreenderá. Também fica claro que todos temos estados emocionais oscilantes, portanto, podemos compreeneder algo pela manhã e não sabermos mais nada a respeito à noite. É importante lembrar que as atitudes são reveladoras de intenções, assim cada um se manifesta pela maneira que o lê, pelo que compreende dele, pelo que deduz daquilo que leu e pelo que põe em pratica. O Novo Testamento é um diferencial de conduta para os Cristãos. Conhecê-lo tira todo e qualquer direito de posse ao seu conteúdo. E quando a partir da palavra o julga superior à tradição e cultura de outros povos é porque nada aprendeu à cerca daquilo que ensina.

Em cada um dos quatro Evangelhos há conteúdo suficiente para a transformação da mente, corpo e coração do homem. Está corroborado por conhecimentos de uma Mente Superior e ilustrado por uma profunda compreeensão da alma humana. A maneira como o lê, o que consegue extrair dele, por aquilo que deixa de extrair, ou pelo simples fato de não o ler, não se interessar ou até ignorá-lo completamente fica exposto o seu nível de ser, seu conhecimento e compreensão. Ele é um instrumento revelador do quanto estamos presentes, ausentes, vulneráveis, fortes ou aflitos. Suas páginas são repletas de magia, mas é preciso Lembrar-se de Si Mesmo para velejar suas águas.

Que assim seja!

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