Lázaro de Carvalho

136 – A criança é o pai do homem

In Artigos on 6 de dezembro de 2011 at 19:37

O professor Jung nos ensina que somos originários do arquétipo primordial; o Sr. Gurdjieff nos fala a respeito de nossa essência ter origem nas estrelas, ou mundo 6, no Raio de Criação. Diversas culturas introduzem a simbologia do arquétipo criança como modelo integral para o processo evolutivo do homem, ou seja, um lastro infinito de possibilidades latentes. Em torno da criança orbita o arquétipo do guerreiro sonhador, ou um universo crescente que interage com todas as possibilidades.

O LOBO E O CORDEIRO MANIFESTOS NA CRIANÇA SÃO INTEGRAIS, SENDO QUE AMBOS, ALÉM DA PRÓPRIA CRIANÇA, ESTÃO SUJEITOS AO AMPARO DE FORÇAS SUPERIORES.

Quando este universo criança aproxima-se do estágio tridimensional da Terra sua alma sonhadora anseia por um modelo de pais biológicos perfeitos, como perfeitos são os pais primordiais. Mas ao iniciar o seu processo de evolução por meio de uma célula intra-uterina começa a se dar conta do mundo de contradições que a espera. Como um sino que ao badalar numa igreja próxima produz vibrações que são recebidas pelo sistema auditivo na forma de sons, também a criança entra em consonância psíquica com tudo que ocorre nas proximidades. Desde os primeiros momentos de sua vida já começa a se dar conta do universo de imperfeições que a rodeia, e como um animalzinho acuado se contorce de medo em um cantinho do útero. Toda e qualquer manifestação externa de violência é absorvida pelo feto com uma intensidade muito maior que aquela que normalmente aprendemos a conviver no cotidiano. POR ISSO, A ESCOLA É IRREDUTIVELMENTE CONTRA QUALQUER IMPOSIÇÃO DE ABORTO.

Toda criança no seu processo de evolução interior não maculado pelas experiências humanas é perfeita, por trazer em si mesma um leque infinito de possibilidades ainda não contaminadas pelas agruras da vida. Entrar em contato direto com esses pequeninos seres de luz é uma oportunidade grandiosa e rara para os pais biológicos. Mas a ânsia de inseri-los numa cultura, ou modelo social viciado pelas dicotomias, ou extremos, tira dos pais a real possibilidade de OBSERVAR A SI MESMOS. Perdemos então a oportunidade rara de nos LEMBRARMOS DE NÓS MESMOS, ou seja, de que somos sementes para um novo tempo, um universo de possibilidades latentes, infelizmente limitado pela imaginação e identificação.

Passam então à cultura das respostas condicionadas, fazendo da criança um projeto de continuidade de suas próprias ideias e convicções, como se o filho fosse um troféu de auto-importância, uma posse. “Este é o meu filho”, dizem com orgulho estampado no rosto, “É a cara do pai”. Pouco temos à acrescentar, pois a identificação com o imaginário já está em andamento. Um homem adormecido não pode entrar em contato direto com a fonte, ou universo desperto, por isso leva junto de si todo um aparato de defesas compensatórias. O sistema é tão cruel e ignorante que são capazes de realizar “festinhas de um ano”, com algazarra, bebida e som estridente, quando é justamente o contrário que a criança necessita. Não é necessário acrescentar aqui que tal festa não tem absolutamente nada a ver com o universo da criança, mas serve como um modelo de coação e coerção sobre o arquétipo infantil, além de reverenciar a auto-importância dos pais diante dos amigos mais próximos.

Atentem para estas palavras do psicólogo junguiano Charles Breaux: “Como bebês buscamos a nutrição e a orientação inerentes a esses progenitores psicológicos através da relação com nossos pais biológicos”. Em seguida, ele afirma aquilo que descrevemos nos parágrafos anteriores: “A necessidade fundamental de nos relacionarmos com a Grande Mãe (art. 097) e de sermos alimentados, protegidos e guiados por ela, muitas vezes foi frustrada dolorosamente pelas inequações de nossos pais biológicos”. Ainda nos diz: “Os complexos emocionais que as crianças desenvolvem e os valores psicológicos absorvidos do ambiente parental criam barreiras ao crescimento”.

Compreendam que essas barreiras, ou entraves psicológicos nos faz preencher o vazio de duas maneiras: Ou somos impelidos por privações ou controlados por defesas compensatórias. Em ambos os casos perdemos contato com o Lobinho (art. 076) que um dia fomos. Assim, as possibilidades reais de aprendizagem são inerentes à criança e não ao homem. Ao homem ficou restrito o universo da racionalidade para justificar de forma satisfatória a sua perda existencial.

A CRIANÇA E O PAI DO HOMEM, E NÃO O CONTRÁRIO. ENQUANTO COMEMORAMOS O SEU NASCIMENTO ELA ASSISTE À NOSSA DEGRADAÇÃO E MORTE.

QUANTO MAIS DISTANTES ESTIVERMOS DE GAIA E DOS SEUS CICLOS NATURAIS, MENOS CONTATO TEREMOS COM A NOSSA CRIANÇA INTERIOR (ART. 069).

Diz-nos o conhecimento dos Feiticeiros Toltecas que a fim de possibilitar a materialização do sonho criança os pais biológicos tiveram que abrir mão de 50% de sua disponibilidade energética existencial. Assim o pai cedeu 50%, enquanto a mãe os outros 50%, perfazendo o primogênito uma integralidade de 100%. Por isso as primogenituras eram vistas como um diferencial nas culturas antigas. Também tem uma relação direta com esse conhecimento a célebre frase do Mestre Jesus: “Não separe o homem aquilo que Deus uniu”. Os 50% restantes do homem, somados aos 50% da mulher criam uma integralidade, ou “união”. Vamos um pouquinho mais além: como pai, mãe e filho formam uma realização individualizada de Três Forças (art. 003), a sua ideia de unidade passa a ser inserida num universo de quatro dimensões: Pai, mãe, filho, família. O homem não tendo acesso aos poderes de um universo quadridimensional não poderia através de suas próprias leis separar aquilo que Deus uniu. Portanto, a infinita grandeza da família no contexto cristão primitivo. Outro ponto importante, agora dentro de um contexto tridimensional: Sendo o filho a Força Neutralizante (art. 038) dessa Tríade, será a Força Ativa da próxima, ou seja, aquele que possui todas as possibilidades latentes de evolução.

O VERDADEIRO CONHECIMENTO PERTENCE POR DIREITO AO FILHO E NÃO AOS PAIS, POR ISSO O PAI ENVIOU O FILHO À TERRA, POIS SENDO HERDEIRO DE URANO E GEIA, ERA A CONTRAPARTE MASCULINA E FEMININA DO COSMOS, OU SEJA, A MATERIALIZAÇÃO DE OCEANO E TÉTIS, A IMENSIDÃO DA TERRA E AS ÁGUAS PRIMORDIAIS.

Vamos citar aqui dois exemplos, para que possamos compreender melhor, de forma prática e objetiva, o teor deste conhecimento.

1 – A criança depois de tomar um sorvete, simplesmente joga o copinho ao chão.

A – Os pais lhe ensinam que dentro de uma cultura civilizada é preciso agir com educação, usando critérios de continuidade, respeito e disciplina. Portanto, o copinho deve ser jogado no lixo.

B – Com essa atitude a criança nos convida a refletir sobre o desprendimento e a sutileza de seus atos, pois entende o copinho como extensão de seu próprio corpo. É incapaz de compreender como nós somos capazes de criar um artefato plástico que possa ser tão nocivo a nós mesmos como espécie.

2 – A criança com total naturalidade leva as mãos sujas de terra à boca e a saboreia com se fosse um delicioso sorvete.

A – Os pais batem na sua mãozinha e a tiram de sua boca até com certa violência, dizendo que isso não se faz. Terra não se leva à boca, porque é suja e faz mal.

B – A criança chora e nas suas lágrimas nos convida a refletir sobre as riquezas do solo, de Gaia, das árvores e dos regatos. Ela ainda trás em si o elo de conexão com todos os elementos formadores do seu corpo, inclusive a terra.

Somos filhos das estrelas, materializados do barro, água, ar e fogo. Divinos por ascendência cósmica, e únicos por individualidade e soberania.

A CRIANÇA É O PAI DO HOMEM, UMA CENTELHA DIVINA IMANENTE NA MATÉRIA.

Observar-se a Si Mesmo torna-se muito prático quando do convívio com uma criança. Basta avaliar a naturalidade de suas respostas, sem imposições ou métodos, para ver o quanto estamos distantes de nossa origem e propósito. A Lembrança de Si Mesmo passa necessariamente por uma recapitulação de nosso universo criança. Somente através do espírito criança que habita cada um de nós, somos realmente capazes de entrar em contato com algo muito maior, e manifestar a Consideração Externa (art. 110) de forma autêntica e real.

Que assim seja!

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